sexta-feira, 18 de novembro de 2016

A desnecessidade de ser cruel com a Polícia Militar



MANAUS - Prezados amigos leitores, sou policial militar há 17 anos e durante todo esse período convivi na linha de frente com pessoas das mais diversas personalidades e de caráter universal, que variam da linha mais tênue à mais forte. Esse convívio em boa parte infelizmente se deu com afrontas de toda natureza, de todas as ordens. Graças a Deus e ao treinamento policial que tive durante três anos de formação na Academia da Polícia Militar do Estado de Goiás nunca perdi o controle quando me deparei com essas situações, pois não passavam de objeto de meu trabalho ainda que fossem da forma mais cruel. Contudo, fico abismado com a forma vil que muitas pessoas e particularmente a mídia lidam com tudo que se relacionam à Polícia Militar. Os problemas pessoais vividos por algumas pessoas durante a ditadura militar no Brasil (1964 a 1985), parece não ter fim. Entendo que nada foi fácil nesse período: agressões; torturas; mortes, situações imperdoáveis. Mas até quando essa revolta será escarrada sobre a Polícia Militar? Infelizmente as experiências com a ditadura afetam-lhes de tal maneira a cabeça que parece existir um câncer enraizado, corroendo-lhes o cérebro e tornando-os incapazes de entender que os anos se passaram, que a vida continua, que muita coisa mudou, que os policiais militares são outros, que a Polícia Militar não é mais a mesma, que não é inimiga da sociedade, que é cidadã e zela pelos direitos fundamentais mais do que em outro momento no país. Temos erros, sim, temos. Mas a luta é incessante para evoluirmos e chegarmos a ser realmente referência para o mundo.
Não consigo entender porque tanta angústia, tanta amargura, tanto ódio contra os Policiais Militares brasileiros, que hoje já são submetidos a treinamento policial humano para lidar da melhor forma com a sociedade. Na formação, os Oficiais são treinados inclusive por professores renomados das universidades públicas. Os praças (Soldado, Cabo, Sargentos e Subtenentes) tiveram todo o programa de ensino remodelado e modernizado, inclusive sob os olhares dos órgão de Direitos Humanos. Mas algo incomoda demais essas pessoas. Até quando eles vão querer vingança? Quando vão entender que a ditadura já passou e quem tem que pagar pelos erros foi quem cometeu os erros? E vale enfatizar que a Justiça brasileira já fez o que deveria para que os verdadeiros culpados pelos crimes cometidos fossem punidos. Se ainda não fizeram a todos, cabe somente a Justiça processar e julgá-los. Nenhum crime ou violência praticado por uma pessoa pode ser transferida a outra. Cada ato praticado é de responsabilidade daquele que a praticou.
Muito embora seja induzida a agir com severidade em muitas ocasiões, pois todos sabem como anda a criminalidade no Brasil e o nível de atuação dos criminosos, a Polícia Militar aprendeu que o mundo evoluiu, que a vida é outra, que não cabe mais truculência ou abuso nas ações com a população. Contudo, sabemos que não há outra solução para conter o avanço da criminalidade senão de forma inteligente e em certos casos com o uso da força. Só tem noção da severidade dos criminosos quem já foi vítima. Quem já esteve sob a mira de uma arma, quem já foi roubado, furtado, agredido, torturado, sabe muito bem como o trauma é doloroso, a dor é maior ainda se o resultado é a morte.
O Programa “Encontro com Fátima Bernardes” da Rede Globo de Televisão, veiculado no dia 17 de novembro, deixou assustados policiais e familiares e parte da sociedade que não pactua com essa espécie de xenofobia. Mais uma apunhalada, mais uma afronta à Polícia Militar. Na ocasião, os convidados optaram por salvar primeiro o traficante e só depois o Policial Militar. Por que salvar primeiro o traficante se é ele a causa do terror no seio da sociedade, que implanta violência, pratica o mal, destrói famílias e transforma negativamente a vida de milhões de pessoas?
Quem está envolvido com o mundo do tráfico ou vende ou usa, ou furta, ou rouba, ou mata, ou destrói, ou faz tudo isso ao mesmo tempo. E não há exceção, todos são malfeitores. O Policial Militar de outro modo é força policial, autoridade policial, servidor da sociedade, protetor, educador, psicólogo, conselheiro e tomador de decisões em frações de segundo como nenhum outro profissional, e sem deixar de cumprir sua missão que é proteger a sociedade, mesmo com o risco da própria vida.
Na prática, a Polícia Militar não se resume a uma mera instituição que previne o crime por usar veículo caracterizado, uniforme padronizado, armamento, etc. A Polícia Militar é instituição de ensino, é instituição de saúde, é órgão de assessoramento, é instituição de preservação da vida, que não dorme, trabalha dia e noite, faça chuva faça sol, em qualquer lugar e não exige qualquer tipo de luxo para trabalhar.
Fomos mais além. A missão diária da Polícia Militar avançou e entrou na seara da educação, com as escolas policiais militares; entrou na saúde, com seus hospitais de campanha, abertos ao público em geral; criou diversos programas educativos e de orientação para contribuir com a formação e preparação dos jovens para que não sejam alvo da criminalidade, etc., tudo para ajudar a sociedade a ser mais justa.
Não temos culpa do que aconteceu no passado. Mas fico impressionado com os ataques diretos e indiretos da mídia e da mesma sociedade que exige proteção e que xinga por conveniência de massa. Queremos apenas ser respeitados; queremos servir a sociedade da melhor forma. Se errarmos, quando errarmos, que a lei seja aplicada. Mas extirpar por extirpar, denigrir por denegrir, macular por macular, menosprezar, subestimar e diminuir à insignificância ou a qualquer situação de repugnância, não vai melhorar a vida de ninguém. Se o nome Polícia Militar é que impõe medo, se a farda impõe medo, seja lá o que for que impõe medo, digam-nos. Vamos debater e encontrar a forma correta de convívio. Estamos dispostos a contribuir sobremaneira para o desenvolvimento da sociedade. Mas, por favor, não venham afrontar continuadamente a paciência, porque nada vai melhorar. Paremos com a hipocrisia institucional.

Elaborado por Major Castro Alves. Oficial Superior da Polícia Militar do Amazonas (Cmt da 3a CIPM - Rio Preto da Eva)
rtcastroalves@bol.com.br

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